Jack Soul Brasileiro
E que o som do pandeiro
É certeiro e tem direção
Já que subi nesse ringue
E o país do suingue
É o país da contradição,
Eu canto pro rei da levada
Na lei da embolada
Na língua da percussão
A dança, a muganga, o dengo
A ginga do mamulengo
O charme dessa nação
Quem foi
Que fez o samba embolar?
Quem foi
Que fez o coco sambar?
Quem foi
Que fez a ema gemer na boa?
Quem foi
Que fez do coco um cocar?
Quem foi
Que deixou o oco no lugar?
Quem foi
Que fez o sapo cantor de lagoa?
Diz aí, Tião!
Tião? – Oi…
Foste? – Fui
Compraste? – Comprei
Pagaste? – Paguei
Me diz quanto foi? – Foi 500 reais
Jack Soul Brasileiro
Do tempero e do batuque
Do truque do picadeiro
Do pandeiro e do repique
Do pique do funk-rock,
Do toque da platinela,
Do samba na passarela,
Dessa alma brasileira
Despencando na ladeira
Na zoeira da banguela
*Quem foi?…
* E diz aí, Tião…
Eu só ponho o be-bop no meu samba
Quando o Tio Sam pegar no tamborim
Quando ele pegar no pandeiro e no zabumba
Quando ele entender que o samba não é rumba
Aí eu vou misturar, Miami com Copacabana
Chiclete, eu misturo com banana
E o meu samba, e o meu samba vai ficar assim…
A ema gemeu
A ema gemeu…

(Lenine)

Lançado em 2009
Compilação lançada em 2009 pela Som Livre
Seleção de repertório por Daniel Assis
Masterização Julio Carneiro
Fotos Nana Moraes
Projeto gráfico Gilson Braga

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
A vida não para…
Enquanto o tempo acelera e pede pressa
Eu me recuso, faço hora
Vou na valsa
A vida é tão rara…
Enquanto todo mundo
Espera a cura do mal
E a loucura finge
Que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência
O mundo vai girando
Cada vez mais veloz
E gente espera do mundo
E o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência…
Será que é tempo
Que lhe falta pra perceber?
Será que temos esse tempo
Pra perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara…
Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Mesmo quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para
A vida não para, não…
Será que é tempo
Que lhe falta pra perceber?
Será que temos esse tempo
Pra perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara
Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para
A vida não para, não…
A vida não para!
A vida é tão rara!

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(Lenine e Dudu Falcão)

Nenhum aquário é maior do que o mar
Mas o mar espelhado em seus olhos
Maior me causa o efeito
De concha no ouvido
Barulho de mar
Pipoco de onda
Ribombo de espuma e sal
Nenhuma taça me mata a sede
Mas o sarrabulho me embriaga
Mergulho na onda vaga
E eu caio na rede
Não tem quem não caia
Às vezes eu penso que sai dos teus olhos o feixe
De raio que controla a onda cerebral do peixe
Nenhuma rede é maior do que o mar
Nem quando ultrapassa o tamanho da Terra
Nem quando ela acerta
Nem quando ela erra
Nem quando ela envolve todo o planeta
Explode e devolve pro seu olhar
O tanto de tudo que eu tô pra te dar.
Se a rede é maior do que o meu amor
Não tem quem me prove
Se a rede é maior do que o meu amor
Não tem quem me prove
Às vezes eu penso que sai dos teus olhos o feixe
De raio que controla a onda cerebral do peixe
E eu caio na rede
Não tem quem não caia
Se a rede é maior do que o meu amor
Não tem que me prove

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(Lenine e Lula Queiroga)

A nave quando desceu, desceu no morro
Ficou da meia-noite ao meio-dia
Saiu, deixou uma gente
Tão igual e diferente
Falava e todo mundo entendia
Os homens se perguntaram
Por que não desembarcaram
Em São Paulo, em Brasília ou Natal?
Vieram pedir socorro
Pois quem mora lá no morro
Vive perto do espaço sideral
Pois em toda Via Láctea
Não existe um só planeta
Igual a esse daqui
A galáxia tá em guerra
Paz só existe na Terra
A paz começou aqui
Sete Artes e dez mandamentos
Só tem aqui
Cinco sentidos, terra, mar, firmamento
Só tem aqui
Essa coisa de riso e de festa
Só tem aqui
Baticum, ziriguidum, dois mil e um
Só tem aqui
A nave estremeceu, subiu de novo
Deixou um rastro de luz do meio-dia
Entrou de volta nas trevas
Foi buscar futuras levas
Pra conhecer o amor e a alegria
A nave quando desceu, desceu no morro
Cheia de ET vestido de Orixá
Vieram pedir socorro
E se deram vez ao morro
Todo o universo vai sambar…

(Lenine e Bráulio Tavares)

Se você quer me seguir,
Não é seguro.
Você não quer me trancar
Num quarto escuro
Às vezes parece até que a gente deu um nó
Hoje eu quero sair só…
Você não vai me acertar
À queima-roupa
Vem cá, me deixa fugir
Me beija a boca
Às vezes parece até que a gente deu um nó
Hoje eu quero sair só…
Não demora eu tô de volta…
(Tchau!)
Vai ver se eu tô lá na esquina. Devo estar
(Tchau!)
Já deu minha hora
E eu não posso ficar
(Tchau!)
A lua me chama, eu tenho que ir pra rua
(Tchau!)
Hoje eu quero sair só!

(Lenine, Mu Chebabi e Caxa Aragão)

Pelos auto-falantes do universo
Vou louvar-vos aqui na minha loa
Um trabalho que fiz noutro planeta
Onde nave flutua e disco voa:
Fiz meu marco no solo marciano
Num deserto vermelho sem garoa
Este marco que eu fiz é fortaleza.
Elevando ao quadrado Gibraltar!
Torreão, levadiça, raio laser
E um sistem internet de radar:
Não tem sonda nem nave tripulada
Que consiga descer nem decolar
Construí o meu marco na certeza
Que ninguém, cibernético ou humano
Poderia romper as minhas guardas
Nem achar qualquer falha no meu plano
Ficam todos em Fobos ou em Deimos
Contemplando o meu marco marciano
O meu marco tem rosto de pessoa
Tem ruínas de ruas e cidades
Tem muralhas, pirâmides e restos
De culturas, demônios, divindades:
A história de Marte soterrada
Pelo efêmero pó das tempestades
Construí o meu marco gigantesco
Num planalto cercado por montanhas
Precipícios gelados e falésias
Projetando no ar formas estranhas
Como os muros ciclópicos de Tebas
E as fatais cordilheiras da Espanha
Bem na praça central. um monumento
Embeleza meu marco marciano:
Um granito em enigma recortado
Pelos rudes martelos de Vulcano:
Uma esfinge em perfil contra o poente
Guardiã mortal do meu arcano

(Lenine e Bráulio Tavares)

Quando você
Piscou por mim o aroma
Me despertou
De um estado de coma
Quando você
Partiu pra mim o embaraço
Deu ferrugem
Nos meus nervos de aço
Meus olhos de raio X
Cegaram de medo
Pois tua alma
É de chumbo e segredo
Quando você
Ciscou por mim indecisa
Eu fui a razão
Do riso da Monalisa
Quando você
Sorriu pra mim um beijo
Na hora H foi como detonar
A bomba do meu desejo
Meus olhos de raio X
Cegaram de medo
Pois tua alma
É de chumbo e segredo
Meus olhos!
Meus olhos!
Meus olhos!
Meus olhos de raio X

(Lenine)

Tá relampiano
Cadê neném?
Tá vendendo drops
No sinal pra alguém
Tá relampiano
Cadê neném?
Tá vendendo drops
No sinal pra alguém
E tá vendendo drops
No sinal…
Todo dia é dia
Toda hora é hora
Neném demora
Pra se levantar
Mãe levando roupa
Pai já foi embora
E o caçula chora
Pra se acostumar
Com a vida lá de fora
Do barraco…
Hay de endurecer
Um coração tão fraco
Pra vencer o medo
Do trovão
Sua vida aponta
A contramão
Tá relampiano?
Cadê neném?
Tá vendendo drops
No sinal pra alguém
Tá relampiano
Cadê neném?
Tá vendendo drops
No sinal pra alguém
E tá vendendo drops
No sinal…
Tudo é tão normal
Todo tal e qual
Neném não tem hora
Pra ir se deitar…
Tudo é tão normal
Todo tal e qual
Neném não tem hora
Pra ir se deitar…
Mãe passando roupa
Do pai de agora
De um outro caçula
Que ainda vai chegar
É mais uma boca
Dentro do barraco
Mais um quilo de farinha
Do mesmo saco
Para se alimentar
Um novo João Ninguém
A cidade cresce junto
Com neném…

(Lenine e Moska)

É como se a gente
Não soubesse
Pra que lado foi a vida
Por que tanta solidão?
E não é a dor
Que me entristece
É não ter uma saída
Nem medida na paixão
Foi!
O amor se foi perdido
Foi tão distraído
Que nem me avisou
Foi!
O amor se foi calado
Tão desesperado
Que me machucou…
É como se a gente
Pressentisse
Tudo que o amor não disse
Diz agora essa aflição
E ficou o cheiro pelo ar
Ficou o medo de ficar
Vazio demais meu coração…
Foi!
O amor se foi perdido
Foi tão distraído
Que nem me avisou
Nem me avisou!
Foi!
O amor se foi calado
Tão desesperado
Que me maltratou…

(Lenine e Dudu Falcão)

Ah! Lavadeira do rio
Muito lençol pra lavar
Fica faltando uma saia
Quando o sabão se acabar
Mas corra pra beira da praia
Veja a espuma brilhar
Ouça o barulho bravio
Das ondas que batem na beira do mar
Ê, ô, o vento soprou
Ê, ô, a folha caiu
Ê, ô, cadê meu amor
Que a noite chegou fazendo frio
Ô, Rita, tu saiu da janela
Deixe esse moço passar
Quem não é rica e é bela
Não pode se descuidar
Ô, Rita, tu sai janela
Que as moças desse lugar
Nem se demora donzela

(Lenine e Bráulio Tavares)

Eu sou feito de restos de estrelas
Como o corvo, o carvalho e o carvão
As sementes nasceram das cinzas
De uma delas depois da explosão
Sou o índio da estrela veloz e brilhante
O que é forte como o jabuti
O de antes de agora em diante
E o distante galáxias daqui
Canibal tropical, qual o pau
Que dá nome à nação, renasci
Natural, analógico e digital
Libertado astronauta tupi
Eu sou feito do resto de estrelas
Daquelas primeiras, depois da explosão
Sou semente nascendo das cinzas
Sou o corvo, o carvalho e o carvão
O meu nome é Tupy
Gaykuru
Meu nome é Peri
De Ceci
Eu sou neto de Caramuru
Sou Galdino, Juruna e Raoni
E no cosmos de onde eu vim
Com a imagem do caos
Me projeto futuro sem fim
Pelo espaço num tour sideral
Minhas roupas estampam em cores
A beleza do caos atual
As misérias e mil esplendores
Do planeta de Neanderthal

(Lenine e Carlos Rennó)

Dolores, Dolores, dólares…
O verbo saiu com os amigos
Pra bater um papo na esquina
A verba pagava as despesas
Porque ela era tudo o que ele tinha
O verbo não soube explicar depois
Porque foi que a verba sumiu
Nos braços de outras palavras
O verbo afagou sua mágoa e dormiu
Dolores, dólares…
O verbo gastou saliva
De tanto falar pro nada
A verba era fria e calada
Mas ele sabia, lhe dava valor
O verbo tentou se matar em silêncio
E depois quando a verba chegou
Era tarde demais
O cadáver jazia
A verba caiu aos seus pés a chorar
Lágrimas de hipocrisia
Dolores e dólares…
Rosebud
Dolores e dólares
Que dolor que me da los dólares

(Lenine e Lula Queiroga)

Daqui desse momento
Do meu olhar pra fora
O mundo é só miragem
A sombra do futuro
A sobra do passado
Assombram a paisagem
Quem vai virar o jogo
E transformar a perda
Em nossa recompensa
Quando eu olhar pro lado
Eu quero estar cercado
Só de quem me interessa
Às vezes é um instante
A tarde faz silêncio
O vento sopra a meu favor
Às vezes eu pressinto
E é como uma saudade
De um tempo que ainda não passou
Me traz o seu sossego
Atrasa o meu relógio
Acalma a minha pressa
Me dá sua palavra
Sussurre em meu ouvido
Só o que me interessa
A lógica do vento
O caos do pensamento
A paz na solidão
A órbita do tempo
A pausa do retrato
A voz da intuição
A curva do universo
A fórmula do acaso
O alcance da promessa
O salto do desejo
O agora e o infinito
Só o que me interessa

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(Lenine e Dudu Falcão)

Tá cansada, senta
Se acredita, tenta
Se tá frio, esquenta
Se tá fora, entra
Se pediu, aguenta
Se pediu, aguenta…
Se sujou, cai fora
Se dá pé, namora
Tá doendo, chora
Tá caindo, escora
Não tá bom, melhora
Não tá bom, melhora
Se aperta, grite
Se tá chato, agite
Se não tem, credite
Se foi falta, apite
Se não é, imite…
Se é do mato, amanse
Trabalhou, descanse
Se tem festa, dance
Se tá longe, alcance
Use sua chance
Use sua chance…
Se tá puto, quebre
Tá feliz, requebre
Se venceu, celebre
Se tá velho, alquebre
Corra atrás da lebre
Corra atrás da lebre…
Se perdeu, procure
Se é seu, segure
Se tá mal, se cure
Se é verdade, jure
Quer saber, apure
Quer saber, apure…
Se sobrou, congele
Se não vai, cancele
Se é inocente, apele
Escravo, se rebele
Nunca se atropele
Se escreveu, remeta
Engrossou, se meta
E quer dever, prometa
Pra moldar, derreta
Não se submeta
Não se submeta…

(Lenine e Ivan Santos)