Ele ajudou a lapidar a brasilidade das composições de João Bosco, José Miguel Wisnik, Tom Zé, personificou as influências urbanas de Arnaldo Antunes, a tropicalidade de Caetano Veloso e mudou a forma de compor de Lenine. Como coreógrafo residente do Grupo Corpo, uma das mais importantes companhias de dança da América Latina, Rodrigo Pederneiras tornou Minas referência em dança no Brasil. Não conquistou isso sozinho. Ao seu lado, sempre contou com uma competente equipe de criação, liderada desde o início pelo irmão, Paulo, o fundador do Grupo Corpo, do qual fazem parte amigos que, há 40 anos, se uniram em torno de um objetivo comum: formar um grupo de dança profissional capaz de realizar trabalhos inventivos, inovadores e emocionantes*.
Quando surgiu o convite para a criação de “Breu”, em 2007, a intenção parecia ser outra. Lenine queria realizar algo a partir da coleção de brinquedos sonoros do seu filho, mas na medida em que Rodrigo teve acesso aos primeiros trechos, ficou tão impressionado que ligou para o cantautor e definiu o tema do espetáculo: “Vamos falar de violência”. “A trilha de Lenine não passa a mão na cabeça de ninguém, ele pega pesado mesmo – avalia Pederneiras em entrevista ao jornal O Globo** – Sua música tem esse lado urbano, contemporâneo, ao mesmo tempo em que sempre chama sua raiz. Essa é uma assinatura muito pessoal dele”.
A experiência deflagrou uma mudança no processo criativo de Lenine. Habituado a recorrer a seu baú de canções como fonte primária antes de se lançar na criação de um novo projeto, ao se defrontar com a tarefa inédita de erguer 40 minutos de música instrumental para sustentar um espetáculo de dança, vivenciou uma espécie de sentimento de orfandade. A privação desta “cena de origem” o obrigou a se reinventar. Uma experiência tão transformadora e impactante que Lenine nunca mais visitaria o velho baú. A parceria se repete ainda na trilha do balé “Triz”, em 2013, com produção musical assinada a quatro mãos por Lenine e Bruno Giorgi, que atua também como músico em diversas faixas. A gravação teve como base principal o estúdio O Quarto, no Rio de Janeiro, montado pelo jovem músico, que depois de produzir o CD “Chão” e a trilha do filme “Amor?”, de João Jardim, contabilizou o terceiro trabalho de grande porte realizado em colaboração com o pai.
**Extraído do Acervo O Globo