Lenine encerrou um hiato de seis anos sem novo disco de estúdio com Labiata, em 2008, um de seus trabalhos mais interessantes. Esta demora é justificável. Durante este tempo, o músico pernambucano ficou envolvido com dois discos ao vivo, incluindo o popular Acústico MTV, em 2006, cuja turnê se estendeu a ponto de dividir a atenção de Lenine com a gravação do seu então novo disco. Este momento criativo do cantor e compositor é capturado de forma bastante espontânea pelo diretor Rodrigo Pinto no documentário Lenine: Continuação – título de uma das canções do álbum em questão.
Em Labiata, Lenine continua sua mistura de ritmos e musicalidades, criando clássicos instantâneos como “Martelo Bigorna” (ganhadora do Grammy Latino como Melhor Canção Brasileira), a bela “Magra” e a roqueira “O Céu é Muito” (parceria com Arnaldo Antunes). No documentário, acompanhamos as gravações do disco, as conversas a respeito da família, das constantes viagens, do lançamento de um álbum em CD ou vinil, dos downloads, da arte como um todo. Tudo isso de forma muito despojada, amigável, cativante.
Essas características do documentário não são nada distantes do próprio Lenine, que se mostra um sujeito muito simples e verdadeiro. O mais interessante de Lenine: Continuação é ver o músico se divertindo, mostrando suas novas canções para seus parceiros e não conseguindo se conter em não cantar junto com a gravação em questão. Seus diálogos com Lula Queiroga e Arnaldo Antunes mostram muito bem isso. “A gente se diverte tanto que nem parece trabalho”, diz Lenine ao ex-Titãs. Antunes, por sua vez, concorda e ainda consegue incluir uma ideia de última hora em uma das melhores canções do disco, “O Céu é Muito”. Acredite.
Outra discussão interessante é o formato de lançamento do disco. Lenine tem vontade de lançar seu álbum em vinil e em CD, com embalagem digipack, mais elaborada que as então tradicionais caixinhas de acrílico. “Você abre a caixa e vê o disco preso naquelas presilhas que sempre se quebram”, diz o músico. Em um momento em que o número de downloads na internet é gigantesco, Lenine deseja dar aos seus fãs que compram seus discos um diferencial. E teve seu desejo atendido.
Por mostrar estes bastidores e ainda incluir a família de Lenine neste caldo – conhecemos os pais dele, sua esposa e filhos – Lenine: Continuação é um passeio íntimo e espontâneo no cotidiano do artista. Talvez pudesse ser mais didático. Quem não conhece Lenine ou sua música pode se interessar por se embrenhar na obra do músico, mas o filme não dá muitos subsídios para tanto. Vai depender da vontade do espectador. Quem é fã, vai se divertir e, talvez, ouvir Labiata com ainda mais atenção e carinho. Uma pena que o filme ficou tanto tempo apenas em circuito de festivais e, só agora, ganha o grande público.