junho . 2018

Estreia Lenine Em Trânsito | Rio de Janeiro

Rio de Janeiro

Sou cabra fiel. Quero reproduzir para vocês com alta fidelidade o som do show”, disse Lenine no palco da casa Vivo Rio após cantar Eu sou meu guia (Lenine e Bráulio Tavares, 1999) na estreia carioca do show Lenine em trânsito na noite de sábado, 9 de junho.

Assim começa a crítica feita pelo jornalista Mauro Ferreira para o Portal G1, que você pode conferir na íntegra no link. E segue: (…) Em qualquer volume, para quem se deixa seduzir pela delicadeza de baladas como Paciência (Lenine e Dudu Falcão, 1999), providencialmente reverberada no bis reservado aos maiores sucessos do cancioneiro do artista, a joia melódica do repertório de Lenine em trânsito é a canção justamente intitulada Leve e suave (Lenine, 2018), uma das seis inéditas da safra autoral do projeto. Leve e suave abriu o show no toque da guitarra eletroacústica de Lenine.

Só que, no atrito entre a delicadeza e o estampido, prevaleceu o estrondo do som tirado pela banda – um quarteto fantástico formado por Bruno Giorgi (guitarra, programações e vocais), Guila (baixo, sintetizador e vocais), JR Tostoi (guitarra, programações e vocais) e Pantico Rocha (bateria e vocais). Em cena no palco da casa Vivo Rio, os músicos tiveram quase o mesmo peso de Lenine na balança que pendeu para o ruído. Porque, na arquitetura da obra de Lenine, a forma como as canções são apresentadas geralmente se revelaram tão ou mais importante do que as canções em si.

Tal peculiaridade foi elevada à potência máxima em Lenine em trânsito. Tanto que pouco importou o fato de que somente seis das 25 músicas do roteiro são inéditas na safra inteiramente autoral. As que já tinham sido gravadas foram enquadradas na moldura noise do som do show, irmanando quase todas as 25 músicas e minimizando o fato de que umas são composições mais inspiradas do que outras.

“De onde vem a canção? Para onde vai a canção quando finda a melodia? Onde a onda se propaga? Em que espectro irradia?”, questionou o compositor nos versos da música De onde vem a canção (Lenine, 2011) em divagações metalinguísticas que se afinaram com o espírito de show que testou os limites de canções como Ecos do ão (Lenine e Carlos Rennó, 2002) e Virou areia (Lenine e Bráulio Tavares, 1990), revolvida com a pá do rock que espanou a brasilidade latente na música.

Nessa fricção entre a calma e a agitação sonora, centro nervoso do show Lenine em trânsito, músicas como Lá vem a cidade (Lenine e Bráulio Tavares, 2008) amplificaram o poder da guitarra de JR Tostoi, integrante indispensável na banda arregimentada sob direção musical de Bruno Giorgi, tão seguro na função que o fato de Giorgi ser filho de Lenine jamais pôs em questionamento a capacidade do músico-di, que já se revelara talentoso no show da turnê Chão (2012), pavimentada por Lenine há seis anos com outra arquitetura sensorial.

Em determinados momentos, pareceu que desabava tempestade sonora no chão pisado por Lenine no movimento desse show cuja apresentação carioca agregou o guitarrista Gabriel Ventura em Umbigo (Lenine e Bráulio Tavares, 2018), número turbinado com passagem instrumental hard. É fato que o ruído por vezes reverberou ao longo do show de forma déjà vu, o que reforçou a assinatura do projeto Lenine em trânsito ao mesmo tempo em que deixou o show por vezes linear ou previsível, embora os matizes de cada número tenham dissipado qualquer eventual linearidade.

Seja o tom hard de Intolerância (Lenine e Ivan Santos, 2018), música reproduzida sem total fidelidade à gravação ao vivo do disco pela ausência no palco do saxofonista Carlos Malta (convidado do registro fonográfico), sejam os ecos que ressoaram na canção É o que me interessa (Lenine e Dudu Falcão, 2008), ou ainda os beatboxsintroduzidos por Lenine e Bruno Giorgi em Ogan Erê (Lenine e Lula Queiroga, 2018), os detalhes contribuíram para encorpar o show como um todo, valorizando cada número.

Se a Ciranda praieira (Lenine e Paulo César Pinheiro, 2008) saiu das águas para uma sala de câmara com as cordas sintetizadas, Quem leva a vida sou eu (Lenine, 2015) – novidade do roteiro por estar ausente entre as 20 músicas do DVD – citou apropriadamente Rua da passagem (Trânsito) (Lenine e Arnaldo Antunes, 1999).

Enfim, Lenine se provou o próprio guia do artista neste show em que se movimentou com naturalidade entre o ruído e a maciez sem perder a pegada. O cabra é fiel a si mesmo. (Cotação: * * * *)

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