abril . 2018

#NãoChegueiSozinho | Ivy Morais

Rio de Janeiro

Produtora executiva que acompanha as turnês de Lenine pelo Brasil, Ivy Morais é também cantora, compositora e administradora.  Para essa mineira de Montes Claros, a estrada é um momento de realização:

É aquela coisa da emoção, do encontro. A gente percebe visualmente e emocionalmente que vale o esforço – diz.

O produtor que viaja com a trupe é responsável por planejar, prever problemas e solucioná-los rapidamente, cuidar de toda a logística dos deslocamentos – e por vezes ainda assumir a comunicação com os fãs via facebook, twitter. Ivy conta que além de tudo é preciso passar segurança para a equipe, e isso parece fácil – apesar das múltiplas funções, ela é a calma em pessoa.

Ora com o cabelo ao vento na janela da van, fazendo check-in da equipe no aeroporto, organizando a visita dos fãs ao camarim de Lenine ou trazendo todo mundo de volta são e salvo: pra Ivy não tem tempo ruim.  E na volta é hora de…descansar? Não. Compor, cantar, escrever. Seu primeiro disco, “Maré alta”, totalmente autoral (sopram os colegas, empolgados) será lançado ano que vem. Estrada e encanto é o que não faltam nessa moça: então “quem não viu vá ver” nossa Ivy cantar.

Iemanjá mineira, por Marceu Vieira

Conheci Ivy Morais numa noite de novembro de 2012, ela cantando no palco do Carioca da Gema, na Lapa, tão linda, tão gigante, acompanhada por Paulão 7 Cordas no violão, Márcio Hulk no cavaquinho, um timaço de músicos, casa cheia, num dos primeiros shows da carreira dela no Rio. Lembrança que ficou e vai ficar pra sempre.

Eu ainda não sabia, ali, da Ivy compositora. Da cantora, ouvia falar das rodas de samba do Bip Bip, meu botequim do coração, em Copacabana, onde, diziam, ela já despontava tímida.

Até que, naquela noite da Lapa, ela ali materializada, enxerguei na sua aparição, com seus trejeitos de Iemanjá, o resultado de alguma coisa diferente, uma mistura bem boa do Insondável brasileiro em favor de nós todos, apaixonados pela música, sobretudo o samba.

Seis anos depois, aí está a Ivy, a Iemanjá mineira, lançando seu primeiro CD, “Na ponta do remo”, em que o protagonista é o mar – o mar do qual ela nasceu longe, o mar que banha a Copacabana do Bip, o mar da Rainha das Águas de Sal, de quem ela é filha, como dizem todos os entendidos no assunto (sarava!) que já cruzaram o caminho dela (perguntem pra própria, a agnóstica Ivy).

Pois foi com o coração contaminado por essas lembranças que ouvi e reouvi e reouvi e reouvi o CD da Ivy, até consolidar a certeza de que algo importante acontece na cena musical brasileira – e que vai ser preciso abrir espaço pra beleza das 11 composições de “Na ponta do remo”, sobressaídas além da voz da cantora.

Das 11 faixas, em duas apenas ela concede a parceria. Todas as demais são só dela. Zuza Zapata tem a felicidade de assinar a coautoria de “Terra morena”. Pedro Franco, autor de quase todos os arranjos, bonitos arranjos, divide a assinatura de “Drink music”.

Sorte deles dois, ingressados pelo destino nessa história que eu vi brotar na Lapa, em 2012, e agora floresce em “Na ponta do remo”, disco sobre o mar do início ao fim, capaz de deixar na gente a vontade de ouvi-lo de novo e de novo e de novo.

Nascida em Montes Claros, terra do Xangô Darcy Ribeiro, criada em Governador Valadares, paragem exportadora de brasileiros pra tudo que é canto do mundo, Ivy, pra sorte nossa, cariocas da Clara (Nunes, mineira como ela), foi parar nos anos 2000 no Rio de Janeiro, onde trabalhou com Lenine no papel de produtora, até vestir seu justo figurino de cantora e compositora, e atrair o próprio astro pernambucano pra uma luxuosa ponta de coadjuvante no seu CD de estreia.

Sim, Lenine canta numa faixa com a Ivy – aliás, uma das mais bonitas, que ela batizou de “Canto de esperança” (“Pelas águas e veredas/Um país a percorrer…/Nas veias corre um sonho/Nas mãos, um nada a perder”).

A cantora e compositora contidas nessa mulher tão especial merecem atenção. “Armadilha de flores”, por exemplo, samba tão feminino, bate no peito da gente, tratando “desse amor inconstante, essa roda gigante, a girar, a girar, aqui dentro de mim”.

Ou “Quem me dera”, outro samba só dela, que canta com Karine Telles, em mais uma participação especial, lembrando, em letra e melodia, a delicadeza de um Batatinha: “Ah, quem me dera um dia despertar seu eterno sol se pôr”.

Ou ainda “Entreabertas”, em que ela nos desfere mais uma porrada no peito: “Vou percorrer as suas ruas de acesso proibido/Me expor à luz do sol/Correr perigo”.

E assim vai, CD que segue, até a valsa “Canção baldia”, em que a Ivy nos dá o nocaute: “Despertou uma cidade em mim/Acendeu a lua cheia em mim/Fez brotar a primavera em mim/Foi eterno até chegar ao fim”.

CD eterno, CD pra sempre o “Na ponta do remo”. CD que vai ficar.

Odoiá, Ivy, a Iemanjá mineira.

 

 

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