A Revista Latina, uma das principais publicações sobre o mundo da música no Japão, traz uma matéria sobre Carbono nesta edição. Se você não fala japonês, demos uma forcinha e traduzimos a matéria do jornalista Diego Muniz. Confira abaixo:
LENINE
O ALQUIMISTA DA MPB
Por: Diego Muniz
O som sem fronteiras e sem limites produzido por Lenine é tão autoral que tem sigla própria. “Sou cantor de MPB: Música Planetária Brasileira”. A definição do próprio artista serve para explicar, em partes, a mistura de gêneros e referências encontradas na sua obra.
Com mais de 30 anos de carreira, Lenine mantém público fiel dentro e fora do Brasil. Apostando na mistura (ele já uniu música eletrônica com o maracatu, caboclinho com o funk e pop com o rock) o cantor e compositor tornou-se um dos artistas brasileiros de maior vendagem na Europa e seus shows viajam por países como Japão, Argentina e México.
Na classe artística é um dos compositores mais requisitados e tem seus versos gravados nas vozes de Maria Bethânia, O Rappa, Milton Nascimento, Maria Rita, Elba Ramalho, Roberta Sá, entre outros.
É com essa bagagem que Lenine lança o seu mais novo trabalho, “Carbono”, um dos discos mais aclamados pela crítica do ano. Com diversos sons, estilos e parcerias (novas e antigas), o cantor fez o disco mais plural da carreira.
Em mais de uma hora de conversa, Lenine, que coleciona palavras, falou com exclusividade à Revista Latina. Além do novo projeto, o cantor lembrou do começo da carreira, explicou sua relação com o palco, a ligação com o público internacional e a importância do medo: “O medo não me reprime, tempera”.
Confira.
Você faz uma música considerada “universal” e tem uma carreira internacional consolidada. Como ocorreu esse reconhecimento fora do Brasil?
Há mais de 20 anos me pergunto isso. Acho que essa janela se abriu quando fiz, com Marcos Suzano, o “Olho de Peixe”. Esse disco, de alguma maneira, dialogou com várias vertentes musicais planetárias. Simultaneamente, surgiram vários álbuns, em vários lugares, com uma sonoridade não parecida, mas com o foco no íntimo e no ínfimo. No caso, o meu trabalho com Suzano, foi uma coisa muito impactante naquele momento. Também desenvolvi uma parceria com várias pessoas do mundo quando, a cada novo disco, lançava o encarte em versões trilíngue para as pessoas entenderem sobre o que estava falando.
Ao mesmo tempo que sua música é internacional ela tem uma linguagem muito brasileira. Qual o segredo para unir esses dois conceitos?
Dentro da música existem a antena e a raiz. O que é raiz a pessoa conhece porque é cultural e se identifica. Na hora que saio do Brasil isso se perde. Aí acontece justamente ao contrário, as pessoas percebem no meu trabalho o que ele não tem de brasileiro.
O que ele não tem de brasileiro?
O Led Zeppelin, o The Police, o Frank Zappa, a música pop, o rock, a música eletrônica. Carrego tudo isso comigo. Não gosto de adjetivar música.
Como essas referências entram na sua música?
Não sei em que proporção entra o quê na minha música. Sou uma esponja, tudo que ouço, gosto e me agrada de alguma maneira, absorvo. Imagino que de alguma maneira isso saia nas minhas canções. Sou um somatório de experiências.
Qual foi o seu primeiro estímulo para começar a fazer música?
A descoberta da composição, que é o primeiro grande prazer, mas não é o maior deles. O maior é o palco, evidentemente. Mas, esse prazer de compor, que é quase solitário e íntimo, é um momento ímpar, só eu sei dele. Quando chega aquela composição e você está sozinho, ou no máximo, com um parceiro, e ela se finaliza com concretude e você é arrebatado com aquilo.
É um momento doloroso também?
Gosto desse tempero da agonia, é bom. O medo é um bom tempero.
Você ainda tem medo, falando musicalmente?
Sempre. Tudo é uma questão de risco. O medo não me reprime, tempera. Ele te possibilita tentar antever o que pode não dar certo, é um bom aliado para chamar atenção para as coisas, para questionar. Mas, o medo não me paralisa. Quero sempre levar adiante, se não fosse assim não saberia fazer. O meu trabalho está muito ligado a uma passionalidade que descobri no que faço a ponto de ter um sentimento quase juvenil. Isso não mudou ao longo dos anos.
Você surgiu nos anos 80, quando no Brasil o cenário do rock era muito forte. Foi muito complicado?
Por isso sofri de um certo hiato que parece ter havido entre o primeiro disco, de 1983, e o segundo disco, de 1992. Acho que a hibridagem que fazia não repercutiu, não teve eco.
Quando começa a mudar?
O prenúncio é justamente com o “Olho de Peixe”, durante esses 10 anos, que parece ter havido um hiato, passei a compor em demasia, passei a frequentar o repertório de muitos artistas. Isso de alguma maneira deu uma estabilidade como criador a ponto de preservar o intérprete.
Com mais de 30 anos de carreira, como manter essa paixão?
O interesse vai se renovando. A busca por excelência, por competência, por fazer melhor sempre, isso não muda. É feito sonhar. Sonhar é uma coisa que você projeta lá longe e persegue, quando está perto de alcançar, joga o sonho mais longe. Porque se não você vai deixar de sonhar?
O que te faz sonhar?
Deixar orgulhosos os amigos próximos. Faço música para agradar umas 40 pessoas, que no final, acabam sendo o meu filtro. Agora, veja bem, essas pessoas, que elegi como meu filtro, têm um poro muito fino (risos). Então tem essa certeza, se agradar a eles agrado ao outros fácil (risos).
Quem são essas 40 pessoas?
O núcleo familiar é o primeiro. Os filhos, a mulher. Quem está junto diz o que os outros não têm coragem. Aliás, eles não me poupam e isso é muito bom, porque dá um “instigamento”, uma adrenalina benéfica. Tem os parceiros mais próximos que também são meus “desconfiódromo”, gente como Bráulio (Tavares), Lula (Queiroga), Dudu Falcão e Ivan Santos. Esses estão na estrada comigo há muito tempo e é natural que sejam os primeiros a que queira agradar.
A opinião deles pode fazer você mudar o rumo de um trabalho?
Lógico. Música é algo que não podemos ter muito apego. Você faz e depois abandona, ou por falta de tempo ou por outro motivo. Música está em eterna mutação, depois que faço um disco, não volto a escutar. Porque sou eu ontem.
ELEMENTO CHAMADO CARBONO
Nesse seu novo trabalho, o “Carbono”, o disco chegou junto com o show. Como foi esse processo?
Estimulante. O “Carbono” tem essa peculiaridade: aconteceram simultaneamente, disco e show. Mal pude digerir o que fiz no estúdio e já tive que esquecer e reformatar, com a minha turma, para ir ao palco. Depois de 30 anos tenho que arrumar estímulos. Mas, isso aconteceu também porque tivemos alguns questionamentos. No final do ano passado, me senti em uma certa obrigação de abandonar a turnê do disco “Chão”. Porque se não fizesse isso, estaria até agora com esse show. Já estava entrando no quarto ano.
Foi um recorde de tempo de show para você?
Geralmente, o tempo de vida útil de cada disco, que gera a turnê, é dois anos e meio. Assim dá para rodar não só o Brasil, mas o mundo.
A forma de abandonar uma turnê é fazendo um disco novo?
A ideia surgiu de fazer um disco, mas de antemão cheguei a resposta que não era um disco que ia fazer. Precisava de um repertório inédito para gerar um show. O álbum era só uma maneira de pulverizar essas músicas. Me interessava mesmo o show.
Então você começou “Carbono” pensando no show?
Uma coisa é a experimentação do estúdio, onde você mergulha em um ambiente tecnológico e extrai algum tipo de emoção que fica impregnada naquele acetato que você leva para casa e ouve. Outra coisa é você pegar isso e exercitar a emoção no dia a dia, no único, no agora, em tempo real. Esse é o palco e era isso que queria.
Você sempre dividiu bem esses dois momentos: palco e estúdio?
Para mim sempre foi muito distante uma coisa da outra. Não necessariamente por serem antagônicos e porque eu preservei-a a experiência de cada um. O disco é lugar de experimentação, é onde posso testar as coisas pela primeira vez, onde posso me aproximar de pessoas que admiro e nunca toquei, posso reafirmar os caminhos que andei e os parceiros de criação, é experimentação. Show é como transmutar a coisa física para uma coisa passional, tridimensional e que você comunga com aquela audiência naquela hora.
O palco é um lugar sagrado?
Tenho esse louvor pelo palco porque é só lá que você mensura como chega o que você faz. O disco você não está na casa da pessoa para saber como ela está ouvindo, não está no carro na hora que toca na rádio, você não sabe como bate. A gente como criador desconfia, no show não, a empatia é direta. Apesar da minha miopia, (vejo só um borrão na frente), sinto com o corpo como bate, como chega. Isso é impagável.
Antes de começar a gravar um disco você procura o nome para ele?
Isso acontece desde o “Labiata” (2008). Dou esse crédito ao grupo de dança Corpo quando me convidou para fazer, pela primeira vez, a trilha sonora do “BREU”. A única exigência deles era que tivesse 40 minutos de música inédita e que eu só mostrasse quando achasse que devesse. Isso é uma liberdade opressora. Entrei no estúdio sem nada a não ser um banco de ruídos que estava levando. Gostei muito da experiência, gostei dessa certeza de estar fazendo o agora, gostei de ter certeza que aquilo era um reflexo da minha cabeça naquele momento e não mais da semana passada. A partir de então, nos meus discos, descubro uma ambiência sonora, um título que sintetize a obra, e corro atrás de escrever um romance por capítulos.
Qual é o ambiente sonoro do “Carbono”?
Todas as músicas foram escritas sobre a égide de carbono. Isso foi uma coisa muito bacana que me deu uma oportunidade de exercitar a criação de uma outra maneira. Tocando, talvez de uma maneira antiga, porque é física e a sequência das músicas tem tudo a ver, se alguém trocar a ordem no digital aleatória vai ter outro disco. Outra história.
É um disco para ser ouvido sem pular faixas?
Na verdade, é um romance sonoro, ou melhor, a minha terceira tentativa de fazer um romance sonoro e não uma coletânea de contos. Faço esse paralelo com o livro com o intuito de dizer,: a gente que trabalha com composição e deseja fazer um disco, é natural ter umas cinco ou seis músicas prontas e depois você corre atrás de outras. Mudou foi nesse sentido de entrar no estúdio e não ter nada pronto.
No “Carbono” você abriu um leque ou novas parcerias. Como esses artistas entram nesse “romance” que você criou?
Tem um momento que é muito individualista, o momento em que estou descobrindo que ambiência sonora é essa, o título do disco, o que vai girar em torno dessa imagética que tenho só na cabeça. Depois, tem o fato de reafirmar os parceiros, não por acaso nesse disco tem o Carlos Rennó, Lula Queiroga, Carlos Malta e Marcos Suzano, essas são as reafirmações. Por outro lado, é o momento de experimentar e estar próximo de quem você admira. Aí entram esses “novos”, que já tinha trabalhado de uma maneira ou de outra, com Carlos Posada, Vinícius Calderoni, João Cavalcanti (meu filho) e a Nação Zumbi.
Por que essas novas parcerias agora?
Foi tudo em função do tema e da canção. No caso da Nação pensei em fazer uma homenagem ao Capiba, que tem um clássico no carnaval pernambucano que é chamado “Madeira que Cupim não rói”, é um frevo de bloco. A música fala exatamente isso: a madeira que cupim não rói e eu fiquei hipoteticamente imaginando essa madeira e fiz o “Cupim de Ferro” e na hora surgiu a ideia de fazer esse tema com a Nação, porque tem tudo a ver, por nos dois sermos de onde somos (Pernambuco).
Os arranjos estão bem diferentes um dos outros. Como foi esse processo de criação?
Cada canção foi produzida de uma maneira diferente. “À meia noite dos tambores silenciosos”, que teve a participação da Orkestra Rumpilezz, gravei no Teatro Castro Alves, em Recife, no dia que o teatro estava fechado, levamos o estúdio para dentro de lá. O arranjo do “O universo na cabeça do alfinete” com a Martin Fondse Orchestra eu acompanhei por Skype, em Amsterdã.
O que une todas canções?
Sou eu fazendo, as pessoas envolvidas, a sonoridade, a ambiência que eu pré-visualizei, e a autoridade das composições. Meu jeito de tocar, de compor, de usar as palavras. Embora seja “Carbono – Lenine” estampado na capa do disco, isso não define o projeto. É um bando, não digo nem uma banda, banda é que me acompanha no show, “Carbono” é um bando de pessoas e o disco é um somatório desse encontro.
Você já falou algumas vezes que é um cronista. O que você quis contar neste trabalho?
Não vou botar legenda. Música para mim é como uma cebola, você tem que sair descascando por camadas. Faço as coisas esperando que, com o tempo, depois da quarta audição, alguém perceba uma coisa ali, um som aqui. Esse tipo de informações subliminares, sou fã do (Stanley) Kubrick (risos). Adoro a história dentro da história, dentro da história.
Isso de alguma forma dificulta o entendimento da sua música?
Não. Isso é só para quem quiser procurar e quem procura acha. Existem graus diferentes de percepção. Música é um espelho e dependendo de como você está se identifica com aquilo e passa ser a sua música. Em alguns momentos se toca de uma maneira atávica, não precisa do cérebro da pessoa, ela apenas toca a alma. Quando faço, e faço isso há muitos anos, decupo muito, testo muito. Gosto desse processo.
Foi o disco que você criou em menos tempo, três meses. Isso dificultou?
Claro que você tem uma urgência em tudo, mas achei que foi benéfico. Novos tempos, a gente tem que aprender a desconstruir e construir novas coisas.
Como foi o processo de agregar músicas antigas na nova turnê?
Em todos os meus projetos, quando vou fazer o show, a primeira coisa que respeito é a ambiência sonora. As escolhas das músicas têm a ver com esse ambiente, não é qualquer uma. Na turnê do “Carbono”, sabendo que ia frustrar parte do público, abrir uma janela para eles escolherem no meio do show o que queriam ouvir.
Um show no Brasil é igual ao um show internacional?
Não. Os níveis de compreensão são diferentes, levando em consideração que 50% do que faço tem a ver com as palavras que uso. Sou um apaixonado por minha língua e só sou compositor por causa dessa ferramenta: a língua que nós herdamos. Quando estou fazendo um show no Japão, na Croácia, na Rússia, o anzol de captura é a música, mesmo que exista o disco em versões trilíngues, nos países não latinos a compreensão se da em outro nível: é na alma, no que a música consegue capturar.
Isso muda alguma coisa na sua apresentação?
Não. Entendo os graus de compreensão. Acho que minha música tem uma hibridagem, um tipo de atrativo, que sempre captura as pessoas, mesmo sem a compreensão das palavras. A coisa do suingue, a forma que me expresso com o violão, isso tudo consigo, rapidamente, sem a necessidade da compreensão, tocar a alma da pessoa, mas esse é o viés da música.
A ARTE DE LENINE
Fazer música é um dom ou fruto de muito trabalho?
É um exercício. Não tem outra maneira. Até essa coisa de “cair do céu”, se você não tiver preparado, vai cair e você nem vai perceber. Então sorte é questão para os aptos também. Mesmo para ter sorte você tem que estar atento para perceber a sorte batendo. Eu não acredito no trabalho sem dedicação, não acredito em nada se não tiver busca pela excelência diária.
Sua música tem limites?
O limite quem impõe é você.
Você se sente um músico à frente do seu tempo?
Tenho o maior medo disso, de ter a sensação que estou descolando do meu tempo. Eu estou junto dele. Isso levo muito em consideração na equação que faço, porque tenho alguns amigos geniais e que, por um motivo ou por outro, descolam da realidade e sofrem de uma invisibilidade que não entendo.
O que você faz nesse sentido para ficar no hoje?
O sentido da adequação para mim interessa sempre levar além, mas não tenho a mínima vontade de ser incompreendido. É até bacana falar sobre isso, porque fiz há alguns anos pelas redes sociais uns vídeos aulas. Porque o pessoal falava que era difícil tocar minha música e eu falava que não era, tem um pulo do gato sim, tem um jeitinho de fazer. E passei a mostrar de uma maneira muito coloquial, sem subterfúgio nem didático e nem acadêmico. Do outro lado caiu a ficha.
Falando em violão, essa é uma das suas maiores marcas?
Tem a maneira de me expressar que, ao longo dos anos, fui depurando uma linguagem, uma maneira de usar o violão, de usar a melodia, isso vai formatando uma assinatura. Mas não procurei isso. Fui fazendo e os amigos foram falando que tinha um violão Lenine ali. A escola de violão brasileiro, que vem de Mão de Vaca, Canhoto da Paraíba, Baden Powell, Jorge Ben, Djavan, Tom Jobim, João Gilberto, Gilberto Gil, é uma responsabilidade muito grande.
Qual a importância da Elba Ramalho na sua carreira?
Elba Ramalho me deu a primeira oportunidade como intérprete e aquilo gerou uma cadeira cativa, não só para mim, mas para muitos dos meus parceiros. Elba foi uma espécie de madrinha de todos nós nordestinos que estávamos, no início da década de 80, querendo trabalhar com música.
Música por encomenda funciona com você?
Tudo é encomenda. Também não tenho preconceito. Eu me encomendo, esse novo disco não é uma encomenda? Eu adoro.
Em algum momento passou pela sua cabeça ser só compositor?
Não. No início pensei que poderia ser um intérprete de uma turma. O “Baque Solto”, por exemplo, só gravei duas músicas minhas. Queria ser porta voz de uma turma que até hoje eu “babo” por ela. Não por acaso, todos esses estão nos 40 que são os meus filtros. O “Olho de Peixe” foi onde formatei e aprofundei a história de compor e comecei a investir na composição.
Você é um cara vaidoso com o seu trabalho?
Só no momento do processo, enquanto ele não existe com concretude e com materialidade, sou muito possessivo, depois não. Quem quiser gravar, pode gravar. É como se não me pertencesse mais.
O que mais te orgulha na sua trajetória?
Eu sou um criador. Faço com muita integridade. Tenho um sentido de adequação muito grande. Não sei se as pessoas têm dimensão da independência que adquiri a muito custo. Isso louvo muito, mas isso me custou. Para ser bem honesto, só cheguei a esse caminho artesanal porque a indústria disse não. A indústria sorriu amarelo para mim, e ao invés de eu dar um sorriso amarelo de volta, disse: ‘não. Os cabras estão errados, quem está certo sou eu’. Fui cabeça dura para insistir nisso.
Em algum momento você pensou em desistir?
Várias vezes. Toda vez que o ser humano fragiliza a gente se questiona de tudo. Eu como ser humano me fragilizei várias vezes e me questiono. Isso é natural, é do ser humano. Eu sou um ser volátil.
Quando você pensa no começo da carreira e hoje, o fazer música é o que você pensava?
Não. Até porque sai do Recife achando que já fazia música. E não fazia. Vim fazer realmente no Rio de Janeiro. Toda a minha trajetória se deu no Rio de Janeiro. Embora, todos me lembrem, e gosto disso com muito orgulho, é sempre o pernambucano o Lenine. Eu moro no Rio há 36 anos, trouxe o Recife comigo, mas não tenho casa lá. Toda minha história particular como artista se deu no Rio. Participei da ebulição dessa cidade, eu participei do carnaval de rua, eu fui campeão 10 anos consecutivos no bloco Sovaco de Cristo, Simpatia Quase Amor. Participei da retomada do carnaval de rua quando não existia muito bloco.
Você sofreu para fazer o “Acústico” – por ser uma coletânea?
Eu não sou muito de sofrer. A gente sofre pensando, depois, na hora do fazer a gente não deve sofrer. Se tiver sofrendo é melhor parar, não faz. Tudo que você faz fica impregnado do sentimento que você está imbuído naquela hora. Então foi um projeto muito bacana.
Você teve algum disco divisor de água na sua carreira?
Acho que cada disco meu divide. Não faço pensando na trajetória. O mergulho é pensando ali, naquele momento. Cada um dos discos que fiz foi um mergulho tão profundo que poderia ficar horas falando sobre eles e como eles foram determinantes na minha carreira, em determinado momento na minha vida, e todos têm a verdade nesse sentido.